CAMINHANDO PELO INFERNO


O ano de 2018 mal começou e aqui estou eu novamente experimentando um estado de ânimo que eu chamo de negro, sem um chão sob meus pés. Não que eu esteja surpreso, mas o início de 2018 tem sido uma extensão do que foi o ano de 2017 para mim. Já leu a frase “Se a Britney Spears sobreviveu a 2007, você pode sobreviver a este dia”? Acredito que a maioria dos amantes de música pop conhece essa espécie de mantra (na falta de uma palavra melhor). Eu posso dizer com segurança que o 2º dia de 2018 foi o dia em que eu fracassei no desafio de evitar pisar na jaca. 

Eu acreditava, dias atrás, estar na iminência de mais um ciclo de depressão, e eu estava certo. Naturalmente, tenho pensado em suicídio mais do que gostaria. O desejo de acabar com tudo não sai do meu coração figurativo, e eu não faço esforço algum para expulsá-lo de mim. “O coração é mais traiçoeiro do que qualquer outra coisa”, diz a Bíblia. Sim, eu sei. O meu coração preparou uma armadilha para mim mesmo da qual eu não somente não consigo me livrar como também não tenho mais forças físicas para sair dela, e, quando você está preso a uma armadilha, buscar ajuda é indispensável – eu aprendi na prática que ninguém consegue seguir em frente sozinho, mas eu fora renegado pelo mundo. Não se trata de simplesmente sentir-se sozinho, mas eu realmente me encontro sozinho no sentido de que não posso contar com mais ninguém quando me confronto com a necessidade de levantar-me. Sejamos realistas: ao longo dos últimos 10 anos, com os meus altos e baixos e comportamentos erráticos, eu me tornara o tipo de pessoa da qual nem os meus familiares almejam estar por perto.

A minha mãe não sabe, mas, uma vez que eu tornei ao maldito ciclo de depressão (eu também não sei dizer se ela percebeu que ando deprimido), passei a intensificar o abuso de substâncias – não na tentativa de me matar por overdose (eu nunca falharia se escolhesse morrer hoje por overdose), mas na estratégia de fugir da realidade; quanto mais eu preciso me distanciar da realidade, mais comprimidos engulo, e a minha mãe não se apercebe do que faço porque eu sei manipulá-la. Eu sou uma pessoa má? Nunca duvidei disso. Mas a verdade é que eu não pretendo parar tão cedo, porque cheguei num ponto em que não consigo mais funcionar sem me automedicar. 

Ora, eu já não me reconheço mais.

Os últimos 10 anos da minha vida, com exceção de alguns poucos períodos de glória que já se dissiparam como flocos de neve em contato com a umidade da língua, têm sido caóticos, como se eu estivesse vivendo um pesadelo acordado constantemente.

É surreal o fato de que chegara aos 25 anos de existência, mas houve uma época em que eu realmente pensava, ou melhor, acreditava que sequer chegaria à casa dos 20. 

No tocante a esta última década, o que eu posso dizer, de forma concisa, é: eu venho tentando sobreviver de todas as formas que você puder imaginar desde que eu fizera 15 anos de idade. De lá para cá, eu tenho passado por fases de altos e baixos, literalmente caminhando no inferno.

Winston Churchill disse o seguinte: “Se estiver passando pelo inferno, continue caminhando” Eu sigo caminhando pelo inferno há 10 anos, mas por que razão eu deveria continuar insistindo? Quanto mais eu caminho pelo inferno, mais eu me sinto tentado a me entorpecer. Bem, eu basicamente sustento a minha mãe financeiramente, e não o contrário, mas essa é a versão da realidade – a verdadeira versão dos fatos – que eu não conto a ninguém; sempre dou a entender que sou financeiramente dependente, filhote de canguru, quando, na verdade, é a minha mãe quem depende inteiramente de mim. O que lhe aconteceria se eu interrompesse a minha própria vida aos 25 anos? Eu tenho sobrevivido até agora, mas me sinto vazio e não me restam mais forças para continuar lutando por minha própria vida.

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