AUTOSABOTAGEM
Meses atrás, eu chegara à errônea conclusão de que não gostava mais de ler livros e havia decidido nunca mais ler outro livro na vida. O motivo? Já não lembro mais, mas tenho uma pilha de livros em casa que comecei a ler e sequer cheguei à última página (minha mãe não precisa saber disso). Na minha cabeça, isso era mais do que o suficiente para tentar encontrar qualquer outro passatempo que não viesse acompanhado de sensação de fracasso. Eu tentava ler vários livros por semana porque acreditava, quer dizer, acredito que os melhores leitores conseguem ler mais de 1 livro por semana, e não atingir esse alvo me fazia sentir vontade de morrer (ou quase isso).
Bem, eu não cumpri minha promessa e me peguei, por descuido, imprimindo a apostila do Encceja com o conteúdo do ensino fundamental quando eu deveria ter impresso a apostila do ensino médio (na verdade, imprimiram para mim). Naturalmente, entrei em desespero e quase surtei. Eu costumava pedir conselhos e orientações no que diz respeito à rotina de leitura a uma amiga nerd devoradora de livros, e eu sempre ouvia orientações práticas e razoáveis dela, até que me dei conta de que a programação que funcionava com ela nunca, jamais funcionaria comigo pelo simples fato de sermos de espécies diferentes.
Não conseguir manter o foco e a perseverança é o tipo de defeito que eu costumava atribuir a alguma falha inexplicável de personalidade que eu só vejo em mim, e não nas pessoas à minha volta; perseverança é uma das virtudes que eu sempre quis e tentei desenvolver, sem êxito. Resultado? Eu criei uma espécie auto aversão, talvez para compensar a constante sensação de fracasso, e cheguei num ponto em que recorria à automedicação na estratégia de me sentir o Clark Kent. Sinceramente, cheguei num ponto em que me sinto farto de ter que ouvir das pessoas sobre o meu suposto potencial. Felizmente, meus dias de dar ouvidos às pessoas e não chegar a lugar algum ficaram no passado.
Se eu conseguir passar na prova do Encceja, saberei que ainda tenho algum controle sobre a minha vida e sobre o que acontece comigo. Caso contrário, deveria reconsiderar minha descrença na predestinação e começar a acreditar que o universo físico está manipulando os eventos da minha vida e conspirando contra mim. De qualquer forma, eu preciso provar a mim mesmo que posso romper as barreiras que me limitam quanto às coisas que eu desejo fazer, mesmo que nunca tenha recebido nenhum encorajamento das pessoas à minha volta para fazê-lo. Dadas as circunstâncias, não posso negar que vira e mexe me sinto tentado a desistir, mas nunca tive essa escolha.
Aos 25 anos, começo a prestar atenção a aspectos da minha vida que passei anos ignorando, e percebo que cometi um grande erro tentando corrigir tudo que há de errado em mim recorrendo a psicotrópicos que não surtem efeito e praticamente confiando minha alma ao amadorismo de médicos e psiquiatras que só se importam com o dinheiro de seus pacientes. Meus instintos são mil vezes mais confiáveis que qualquer palavra que venha deles, mas lamento ter levado uma eternidade até me dar conta disso.
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