QUEDA LIVRE

“[A depressão] se caracteriza pelo torpor, pelo frio e pela incapacidade de sentir que seria feliz de novo ou que voltaria a sentir alegria. Como se sugassem as cores da vida.” – JK Rowling. 

No dia 26 de outubro de 2017, a minha mãe, fuçando as minhas coisas em meu quarto (pelo menos eu prefiro colocar dessa forma, transformando-a na vilã de mais um episódio caótico da minha vida), descobriu que eu estava fazendo uso de bebida alcoólica, pois eu havia escondido em meu quarto uma lata vazia de cerveja na crença de que o cômodo era um esconderijo seguro para os meus vícios. Pelo visto eu estava errado, e a minha reação não foi das melhores quando fui desmascarado, pois tenho problemas com a raiva em situações de pressão e estresse.

Bem, eu sou um jovem adulto de 25 anos, e, de acordo com o código legislativo do meu país, não estou cometendo crime algum por fazer uso de bebidas alcoólicas, certo? Então, por que diabos eu "surtei" ao ser pego em flagrante pela minha mãe? A resposta é simples: eu sofro de depressão e ansiedade clínica, e faço uso de medicação controlada para gerenciar os sintomas relacionados à depressão e ansiedade. Ou seja, eu estava encrencado.

Todavia, tenho me sentido tão deprimido, que vinha abusando de remédios para dormir e bebendo discretamente. Me senti a pessoa mais manipuladora do mundo comprando bebidas alcoólicas de forma discreta e misturando o álcool aos sucos naturais na estratégia de mascarar o fato de que andava bebendo. É o típico comportamento autodestrutivo, eu sei, mas, em razão do caos que se instalou na minha vida, cheguei à conclusão de que não estou pronto para ficar sóbrio, ou para receber qualquer tipo de intervenção para que eu seja salvo, por assim dizer, pois no momento não quero ser salvo, e estou sustentando a crença de que talvez não haja mais salvação para mim.

“Eu não quero ser salvo, então você deveria parar de tentar me salvar”, estas foram as palavras que eu dirigi à minha mãe num rompante. Confesso – e reconheço – que lhe disse coisas muito duras e fiz acusações injustas contra ela. Horas mais tarde, senti arrependimento e culpa. Talvez eu esteja me transformando num pesadelo para a minha própria mãe...   

Nos últimos dias, tenho me sentido cada vez mais depressivo e experimentado um estado de espírito sombrio em relação a mim mesmo e ao futuro. Me sinto desconfortável em minha própria pele de tal modo que perdi a capacidade de me conectar às pessoas, e qualquer esforço que eu empregue para reverter isso desencadeia em mim a sensação de que a minha alma sofre hemorragias. Não se trata apenas de estar deprimido, mas também de estar escravizado a uma condição de saúde mental que a psiquiatria denomina ansiedade social – um quadro médico que se instalou no meu psiquismo, e lamentavelmente só descobri que sofro dessa condição de saúde mental recentemente, graças a um membro do grupo de apoio que compartilhou com os demais membros um artigo que fala justamente sobre ansiedade social.

A ansiedade social é uma das razões pelas quais eu me sinto desconfortável em minha própria pele. Não é como se houvesse uma fórmula de libertação do estado em que me encontro atualmente. Me sinto vulnerável, frágil, solitário e debilitado em todos os sentidos (físico, mental, emocional e espiritual), e meu corpo simplesmente não reage frente às adversidades que se fazem presentes na minha vida. Se me atrevo a carregar nas costas a rotina que abrange todos os afazeres e responsabilidades que fazem parte do meu dia a dia, a exaustão e o estresse se apoderam de mim.   

Pensamentos suicidas se tornaram hospedeiros em minha mente, e sabe o que é mais estranho? Eu não tenho nenhuma resposta positiva ao tratamento à base de antidepressivos. 

Embora eu reconheça em mim mesmo a tendência à adicção, não me sinto motivado a segurar a onda. Eu só quero beber, beber e beber, e encharcar o meu organismo de remédios para dormir. Talvez eu tenha desistido de mim mesmo...

Um dos membros do grupo de apoio para portadores de doenças mentais do qual faço parte no Facebook publicou a seguinte pergunta: “O que vocês gostariam de apreender a fazer para amenizar os sintomas da depressão?”. Eu respondi que adoraria fazer aulas de dança, porque descobri que tinha inclinação para dança na adolescência e queria me aperfeiçoar, e de certa forma eu me sentia encorajado quando diziam que eu dançava bem – no passado remoto, é claro –, mas hoje em dia eu raramente falo sobre o assunto para as pessoas, porque seria presunção da minha parte dizer que eu tenho “talento” (na falta de outra palavra) para a dança. Estou soando paradoxal? Também gostaria de pintar quadros, embora eu não seja um Picasso do século 21. E daí? Não tenho pretensão de me tornar um pintor de qualquer forma, mas a pintura é uma atividade que considero terapêutica, e com isso eu já me daria por satisfeito. Também gostaria de escrever um livro, talvez, mas nunca consegui concluir nenhum dos meus contos, e, sinceramente, não sou a JK Rowling de calças, o que me faz pensar que não tenho talento para a escrita, então não valeria a pena empregar tempo e energia escrevendo um livro. Também adoraria concluir o colegial e ingressar numa faculdade, mas, ao contrário dos demais, eu nunca fui o tipo de pessoa que consegue as coisas por esforço, a menos que elas caiam em meu colo.


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