MINHA VIDA DE CÃO
12 de outubro, dia das crianças – grande bosta! Eu odeio feriados. Não que os feriados façam alguma diferença na minha vida, já que eu tenho vivido, não um ano, mas uma década sabática. De todo modo, são quase 3h00 da madrugada e eu me sinto fisicamente esgotado, mas o meu cérebro não me deixa dormir com todos os assuntos que eu preciso registrar por escrito. Maldita insônia! Eu não posso me dar ao luxo de continuar fazendo uso do Alprazolam em razão dos efeitos colaterais pesados. Da última vez que resolvi tomar, dias atrás, me lembrei do motivo pelo qual havia decidido suspender a medicação: não demorou muito e eu já estava devorando a geladeira, minha concentração ficou comprometida e meu humor se apresentou de forma instável; até a minha mãe recomendou que eu parasse de uma vez por todas com o Alprazolam. A alternativa é jogar progressivamente os comprimidos fora pra criar a impressão de que eu os estou tomando, mas a minha mãe já sabe que os comprimidos estão indo paro o lixo. Meus comprimidos, minhas regras.
Bem, finalmente posso dizer que cheguei ao fundo do poço por causa dos meus problemas de atenção (ou quase isso). Não é a primeira vez que acontece, mas eu podia jurar que tinha trancado o portão dos fundos da minha casa com o cadeado na noite retrasada. Não tranquei. Só o que fiz foi fechar o cadeado mesmo. Resultado: minha bicicleta foi roubada. Prestar queixa na delegacia é inútil. Alternativa: não entrar em desespero e me manter equilibrado tanto quanto possível. Simples? Seria, não fosse por minha mãe não parar de dizer que eu não faço nada certo, que não presto atenção em nada, que a culpa é sempre minha por todas as coisas que dão errado e blá blá blá. Não sei como não estou surtando com tanta censura (deve ser um dos benefícios da sobriedade). Como meu temperamento é forte, tenho reagido às suas críticas nos últimos dias, basicamente refutando tudo o que ela diz e me exonerando das acusações. Impossível fugir do clima de tribunal que se instalou na minha casa.
Ser portador de uma doença mental e ser filho da minha mãe ao mesmo tempo é uma sentença quase tão ruim quanto estudar 5 anos na faculdade de medicina para no final das contas se tornar médico particular do Michael Jackson e virar bode expiatório num crime de homicídio. Não estou exagerando. Eu me sinto discriminado todos os dias na minha própria casa, e ser portador de TOC significa que você precisa estabelecer regras no ambiente para conseguir conviver com a doença, ou às vezes impor regras quando não se mora sozinho. Minha mãe faz questão de violar deliberadamente todas as regras que me ajudam a fazer do TOC um fardo menos pesado, e o Sertralina não traz nenhuma resposta positiva em relação ao sintomas.
Não são todas que conseguem lidar com portadores de doenças mentais. Já aceitei o fato de que nem todos saberão lidar comigo.
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